Como uma área de apenas um hectare plantado há menos de três anos com baunilha está colocando essa planta trepadeira como um possível meio de renda alternativa na região de Belmonte, na Costa do Descobrimento?
Essa resposta foi dada pelo engenheiro agrônomo aposentado de 68 anos, Waldomiro Fernandes Melo (Wadoca), ao mostrar o seu experimento desenvolvido no município de Belmonte ao escritor Roberto Martins e à equipe da publicação Blog da Rose Marie, da Jornalista e historiadora Rose Marie Galvão. “Só com esse hectare, em seis anos, dá para colher de 700 a 800 quilos de baunilha. O Brasil é um grande importador dessa especiaria e uma política de substituição de importações com geração de renda e emprego seria bastante adequada para o Sul da Bahia e para outras áreas tropicais.” – Comentou o aposentado durante a visita.
Com base em estudos técnicos realizados por especialistas no assunto, “seu” Wadoca, como é conhecido na região, afirma que a baunilha, para produzir bem, precisa de condições climáticas idênticas as que ocorrem no sul e extremo sul baiano. “Em Madagascar (África Oriental), que possui uma das maiores produções mundiais, a temperatura média anual é 32º C (máxima) e 17º C (mínima) e a plusviosidade atinge 1.800 mm por ano, parecido com Itabuna”. Além de o clima responder de forma positiva ao cultivo da baunilha, Wadoca destaca a atividade em si, que, por necessitar de área sombreada para dar certo, não prejudica o meio ambiente.
A baunilha é uma orquídea trepadeira nativa do sudeste do México, da Guatemala e outras regiões da América Central, cujos plantios estão mais difundidos na Ilha de Madagascar, Indonésia, China e Comoros. Existem algumas espécies nativas do Brasil, mas que não possuem mercado, pois seu aroma é muito diferente. Wadoca explica na publicação que “a baunilha é uma orquídea terrestre. Para se desenvolver, necessita de um tutor, que pode ser uma estaca ou uma árvore, como o cacaueiro. Isso torna muito barato o custo da implantação dessa cultura”, observa.
A substância química que dá o aroma da baunilha é um aldeído chamado vanilina, isolado em 1816. É muito utilizado na indústria de alimentos, incorporado em mistura com chocolates, doces, sorvetes e bebidas. Também é utilizado para a produção de essências para a fabricação de perfumes, sabonetes, talcos, cremes, entre outros. Em face da pequena produção e do alto preço, a utilização de aromatizantes sintéticos que simulam o aroma de baunilha é mais empregado. O alto preço da vanilina proveniente de extrato natural rende US$ 4.000,00/kg e tem estimulado pesquisas conduzidas para a sua produção por micro-organismos e a produção biotecnológica por cultura de células da planta.
A plantação de baunilha já existe de modo organizado nos municípios de em Nilo Peçanha e Itaperoá, na Costa do Dendê. “No sul do Estado, já está sendo feita alguma coisa, como aqui na minha propriedade (de oito hectares). Mas o governo baiano tem de investir no negócio para ajudar as pessoas a ter outra fonte de renda, o que pode acontecer de forma extraordinária, já que tem boa aceitação no mercado”, frisa “seu” Wadoca.
O quilo da baunilha para exportação hoje está entre US$ 250 e US$ 300, segundo informou Wadoca. “Em Nilo Peçanha, se comercializa nesse preço. Já pensou como as pessoas daqui podem ganhar, daqui a uns cinco a seis anos, quando a produção estiver no auge mesmo? É uma cultura boa que pode ajudar muita gente do Vale do Jequitinhonha que só vive do pescado”. Comentou o produtor que já apresentou um projeto de desenvolvimento do cultivo da baunilha à Secretaria de Agricultura do Estado e à Prefeitura de Belmonte. “Eles se mostraram interessados em ajudar. É uma oportunidade que não se pode perder.”
A variedade mais plantada comercialmente da baunilha é a Vanilla planifolia, a que “seu” Wadoca possui na propriedade. Duas outras espécies, Vanilla pompona e Vanilla tahitiensis, são pouco cultivadas e fornecem um produto de qualidade inferior. “Essas quase não se plantam mais. A Vanilla é que é a melhor mesmo”, disse agricultor belmontense. A Vanilla planifolia é a principal fonte natural de baunilha, sendo também a Vanilla trigonocarpa uma das melhores produtoras de baunilha. Como a essência de baunilha é extraída das favas de algumas espécies, é preciso ter atenção se a pessoa se interessar pela atividade e não tiver informações. Wadoca alerta que “é preciso ter cuidado para não errar na variedade”.
O plantio da baunilha, da família das orquídeas, é feito por meio de estacas, cujo comprimento tem influência direta no tempo necessário à iniciação do florescimento e frutificação. As estacas devem ter, no mínimo, 40 cm de comprimento. Em alguns locais do sul e extremo sul baiano, o plantio é feito no período chuvoso, utilizando o espaçamento 3 m x 1 m em covas adubadas com matéria orgânica, com as dimensões de 30 cm em todas as direções.
A adubação de manutenção da baunilheira é feita, anualmente, com a aplicação de matéria orgânica em cobertura. Como as raízes da baunilheira são superficiais, não se recomenda fazer capinas após o plantio. A prática da poda, destaca o engenheiro agrônomo aposentado Waldomiro Fernandes Melo, é bastante utilizada. “Corta-se a extremidade da planta a cerca de 10 centímetros de comprimento entre janeiro e março, para estimular a produção de inflorescências nas axilas das folhas dos ramos pendentes. Após a colheita, o ideal é podar também as hastes velhas e fracas”. A planta necessita de sombreamento em torno de 50% a 70% de luminosidade, salienta.
A colheita das favas da baunilha ocorre de abril a julho, quando as cápsulas estão maduras com coloração mais claras, sem brilho, conforme dados apresentados no site da Ceplac. Isto ocorre cerca de oito a nove meses após a polinização. Segundo especialistas em fitotecnia do órgão, a planta inicia o florescimento no terceiro ano após o plantio, dependendo do tamanho da estaca usada, e a máxima produção de flores é alcançada com sete anos após o plantio. A produtividade média dos plantios do sul da Bahia varia de 700 a 800 kg de frutos beneficiados por hectare, quando a planta atinge 6 anos de idade.
Segundo José Basílio Vieira Leite, engenheiro agrônomo do Centro de Pesquisas da Ceplac, o principal mercado comprador da produção de baunilha da Bahia é São Paulo, sendo comercializado ao preço de US$ 150 o quilo. A baunilha é considerada uma especiaria por interferir de forma benéfica no sabor final da comida, além de permitir a conservação dos alimentos. É empregada mundialmente como aromatizante de sorvetes, chocolates, bebidas e produtos de confeitaria e perfumaria. Seu valor medicinal ainda está sendo testado, segundo especialistas.