Na manhã desta sexta-feira (21/03), o Conselho de Caciques e Lideranças Pataxó bloqueou a BR-367, entre os municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, em protesto contra a prisão de pelo menos 10 indígenas nos territórios de Barra Velha e Comexatibá, em Prado, durante a Operação Pacificar. O bloqueio durou mais de cinco horas e gerou uma longa fila de veículos na rodovia.
O cacique Juari Pataxó afirmou que a comunidade indígena tem sido marginalizada e defendeu a ocupação da área, alegando que o território é reivindicado há mais de 40 anos. “A terra é do povo Pataxó. As fazendas que estão lá há 20 ou 30 anos não eram para estar lá, pois é território indígena, é do povo Pataxó. Agora ficam deputados, senadores e movimentos do agro dizendo que a terra é produtiva, é tudo mentira, [ficam] jogando a sociedade contra os povos indígenas”, criticou Juari.
A mobilização contou com a presença de diversas lideranças indígenas, entre elas o cacique Zeca Pataxó, da comunidade de Coroa Vermelha. Ele criticou a demora do governo federal na demarcação das terras indígenas e cobrou uma mudança de postura do governo estadual. “Nós somos indígenas, residimos nesta terra e queremos respeito. Governo federal, que demarque nosso território; governo do Estado, que tem massacrado o nosso povo, tem que mudar o seu discurso e atender as populações indígenas”, afirmou.
A cacique Arnã Pataxó também se manifestou, exigindo uma resposta do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, a quem acusou de agir de forma contraditória em relação às causas indígenas. “Gostaria de ter uma resposta do governador da Bahia, que se diz indígena, coloca um cocar na cabeça, abraça nosso povo, dizendo que é indígena. Onde está você neste momento, que autorizou a polícia a entrar em nosso território desta forma arbitrária? Por que não sentou para ouvir nosso povo?”, questionou.
A interdição da rodovia foi encerrada no início da tarde, com a liberação das pistas e a normalização do tráfego. O protesto evidenciou a insatisfação das comunidades indígenas com as ações policiais e a falta de avanços na regularização de suas terras.
A Operação Pacificar, realizada quinta-feira (20) por cerca de 150 policiais civis e militares, cumpriu quatro mandados de prisão determinados pela justiça e prendeu sete pessoas em flagrante. Houve apreensão de 11 armas de fogo, incluindo um fuzil e uma submetralhadora, além de farta munição.
O objetivo da ação, segundo a polícia, foi desarticular um grupo acusado de invadir fazendas na região, expulsar moradores e roubar a produção. Durante a operação, um tiro atingiu um policial, que foi protegido pelo colete à prova de bala. Em nota, a Polícia Militar informou que a operação foi conduzida com rigor técnico, respeito à legalidade e respaldo judicial, resultado de investigações. Conforme a corporação, o cumprimento dos mandados de prisão e de busca e apreensão teve como único propósito restaurar a ordem pública e garantir a segurança da população, sem qualquer viés discriminatório.